O ministro do Interior de Angola exortou hoje aos efectivos (não vão eles esquecerem-se de pôr em prática a propaganda oficial) da Polícia Nacional para se entregarem com abnegação na luta contra a corrupção, impunidade, branqueamento de capitais, combate ao terrorismo e a imigração ilegal. Só falta fazer igual apelo às zungueiras…
Ângelo Veiga Tavares, que endereçou hoje uma mensagem de felicitação à Polícia Nacional pelo seu 42º aniversário, pediu ainda o empenho da polícia na moralização da sociedade, no fortalecimento do Estado democrático de direito e no bem-estar social de todos os angolanos.
O governante angolano recordou o papel da Polícia Nacional na preservação da independência nacional, na defesa da integridade territorial do país e a manutenção da ordem e tranquilidade públicas, num contexto de invasão de forças armadas estrangeiras.
E então o papel da Polícia na controlo da seca, da chuva, dos jacarés e dos malandros da oposição, nomeadamente dos jovens que, cada vez mais, teimam em pensar pela própria cabeça?
“Felicito todos os oficiais, comissários, superiores e subalternos, subchefes, agentes e trabalhadores civis, que directa ou indirectamente contribuíram para a construção e desenvolvimento da Polícia Nacional e aproveito a ocasião para encorajar os mais jovens membros da corporação a seguirem com brio e dedicação o seu exemplo”, lê-se na mensagem.
Quem tem um ministro assim…
O ministro Ângelo Veiga Tavares gosta de pedir. E faz muito bem. No dia 26 de Dezembro de 2017 pediu aos cidadãos que denunciem “indícios de factos criminais” decorrentes da gestão da coisa pública, para “permitir um maior combate à corrupção, ao peculato e ao branqueamento de capitais”.
Ângelo Veiga Tavares, que discursava nesse dia na cerimónia de cumprimentos de fim de ano, referiu que pretende a colaboração dos cidadãos em “crimes que incidem de forma directa nas condições de vida da população e reduzem a capacidade do Estado, para dar resposta às suas principais necessidades”.
O titular da pasta do Interior assegurou que as acções da Polícia Nacional, em 2018, estarão voltadas, sobretudo, para o combate aos crimes de natureza económica, no “cumprimento das orientações do Presidente da República, João Lourenço”.
“Nomeadamente, o combate à criminalidade e à imigração ilegal, bem como melhorar o controlo das nossas fronteiras e no quadro do combate à criminalidade violenta e aos crimes de natureza económica”, observou. O governante alertou até que dentro das prioridades o combate aos crimes cibernéticos não será descurado.
No dizer do ministro, em 2018 a Polícia Nacional deverá estar mais próxima do cidadão e melhorar a sua prestação no exercício das actividades, bem como ter sempre presente que são servidores públicos.
Na sua alocução, Ângelo Veiga Tavares anunciou ainda que “finalmente, Angola vai contar com um novo passaporte em 2018”, ano em que também será revista a Lei sobre o Regime Jurídico de Estrangeiros, “com vista à remoção dos preceitos que colidam com a perspectiva de criação de um melhor ambiente de negócios e o desenvolvimento do turismo”.
“Deveremos aprovar uma adequada política migratória e criminal e melhoraremos os mecanismos de tratamento dos actos migratórios”, garantiu.
O ministro referiu ainda que a nível dos serviços penitenciários, 2018 será o ano virado para a melhoria do sistema de reeducação dos reclusos, das suas condições técnico-profissionais e académicas, bem como da sua dieta alimentar.
Segundo o governante, com a introdução do Sistema Integrado de Segurança Pública, uma resposta mais eficaz será dada aos cidadãos, para que na prevenção, esclarecimento de crimes, bem como nas calamidades, sinistralidade rodoviária e outras necessidades mais prementes da população, possa haver “melhor capacidade de resposta”.
“Deveremos, em 2018, prestar maior atenção à esfera social, devendo melhorar significativamente a nossa resposta neste domínio. Papel de destaque deverá desempenhar a Caixa de Protecção Social e os Cofres de Providência”, referiu.
Para o efeito, o ministro considerou necessário melhor a capacitação dos efectivos, além de um maior rigor na selecção para o ingresso nas carreiras do regime especial, no domínio disciplinar e das tecnologias de informação.
Sobre 2017, o ministro do Interior considerou-o “difícil”, manifestando, contudo, “orgulho pelo asseguramento com brio” das eleições gerais de 23 de Agosto, reiterando felicitações a todos os efectivos que trabalharam, nas distintas fases do processo eleitoral.
Como elemento negativo, Ângelo Veiga Tavares focou a sinistralidade rodoviária, lamentando que alguns dos cidadãos que não acataram os conselhos da polícia, por ocasião do natal, hoje “já não fazem parte do mundo dos vivos”.
Até João Lourenço o “comprou”
Quando visitou Moçambique no dia 12 de Fevereiro de 2016, Ângelo Veiga Tavares descobriu a pólvora, se bem que a patente pertença a José Eduardo dos Santos. Ao melhor estilo do embaixador itinerante Luvualu de Carvalho, o ministro disse, em Maputo, que o caso dos 15+2 activistas reflectia uma tentativa externa de colocar “governos dóceis” no poder.
O governante angolano falava aos jornalistas à saída da audiência concedida pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, no âmbito da visita que realizou ao país, para – segundo a agenda oficial – reforço da cooperação no domínio da segurança e ordem pública.
“Há tentativas de ter no poder governos dóceis e, nalguns casos, são utilizadas algumas pessoas, sobretudo jovens, na tentativa de verem implementado em Angola aquilo que se vê nos outros países”, apontou Ângelo Veiga Tavares, mostrando mais uma vez a sua capacidade de repetição em série dos recados encomendados pelo “querido líder” de um governo nada dócil… para com os fracos.
Ângelo Veiga Tavares aludia na altura – recorde-se – ao processo que envolveu 15 angolanos em prisão domiciliária em Luanda, além de duas jovens em liberdade, acusados de actos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o então Presidente angolano.
“Nós temos estado atentos e quando a lei é violada as pessoas que o fazem devem sentir o peso da lei e das autoridades. Este processo destes jovens é um processo normal, teve o seu curso normal de ponto de vista da sua instrução, e agora está na fase judicial”, disse ainda aos jornalistas o ministro que foi de José Eduardo dos Santos e é agora de João Lourenço.
Recorde-se, neste contexto, que a NATO afirmou que nunca discutiu qualquer acção militar em Angola, desmentido as teses do Luvualu de Carvalho, camarada de Ângelo Veiga Tavares, que andou a correr os areópagos afectos ao regime para garantir que a actividade “conspirativa” dos jovens visava uma intervenção em Angola da Aliança Atlântica.
Crê-se que Luvualu de Carvalho, tal como Ângelo Veiga Tavares, descobriu que os jovens queriam provocar era uma intervenção do Pacto de Varsóvia. E apostavam tudo nessa versão. Acontece, contudo, que alguém os alertou que essa organização militar comunista tinha acabado em Junho de 1991. Estes dois peritos do regime corrigiram o tiro e substituíram Pacto de Varsóvia por NATO.
Tudo isto começou quando, socorrendo-se das afirmações feitas em Luanda exactamente pelo ministro do Interior do regime, Ângelo Veiga Tavares, o embaixador itinerante repetiu que os activistas pretendiam realizar uma marcha até ao Palácio Presidencial, “levando com que fossem quebradas as regras de segurança (…) para que a guarda presidencial ou a polícia presente reagisse, matasse crianças, matasse senhoras e matasse idosos para provocar a comoção internacional e justificar então uma intervenção vergonhosa”.
“É isto que se procurava. Que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) ou alguns países que dela fazem parte fizessem um ataque a Angola, para que se verifique o horror que se verifica agora na Líbia ou se verificou e verifica na Tunísia”, acentuou o então diplomata itinerante fabricado à medida e por medida por José Eduardo dos Santos.
“Os dados são públicos, as afirmações e as contestações estão ser tratadas no quadro judicial e esperamos que o tribunal faça o seu trabalho”, disse ainda Ângelo Veiga Tavares. Desconhece-se se o ministro sabe qual é a diferença entre um Tribunal num Estado de Direito Democrático e um, como o de Luanda, que não passa de um palco circense.
“Isso [forças externas interessadas em desestabilizar a Angola], em certa medida, nunca deixou de existir desde as nossas independências”, apontou o ministro, certamente referindo-se à África do Sul mas pensando (e não é certo, reconhecemos, que Ângelo Veiga Tavares… pense) em Cuba e na União Soviética.
Folha 8 com Lusa